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Deus não joga dados

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Yuval Noah Harari é um historiador Israelense, autor dos bestsellers Sapiens e Homo Deus, que se tornou bastante popular no Brasil e, inclusive, chegou a participar, na TV Globo, do programa do Luciano Hulk. Os fragmentos aqui reunidos são extraídos do livro Homo Deus. Para Harari, atualmente, o indivíduo se assemelha a um pequeno chip dentro de um sistema gigantesco que, na realidade, ninguém entende. De acordo com esse sistema, que ele denomina "dataismo", o Universo consiste num fluxo de dados e o valor de qualquer fenômeno ou entidade é determinado por sua contribuição ao processamento de dados.

"À medida que o sistema de processamento de dados se torna onipotente e onisciente, a conexão com o sistema se torna a fonte de todo significado. Se você é parte desse fluxo, você é parte de algo muito maior do que você mesmo. As religiões tradicionais lhe diziam que cada palavra ou ação suas eram parte de um plano cósmico e que Deus o observava a cada minuto e se importava com todos os seus pensamentos e sentimentos. A 'religião dos dados' lhe diz que cada palavra ou ação suas faz parte de um grande fluxo de dados, que algoritmos o vigiam constantemente e se importam com tudo o que você faz e sente", escreve Harari.

De acordo com os humanistas, as experiências ocorrem dentro de nós e devemos encontrar em nosso interior o significado para tudo o que acontece. Os dataistas acreditam, ao contrário, que as experiências não têm valor se não forem compartilhadas. Só precisamos gravar e conectar nossa experiência ao grande fluxo de dados e os algoritmos (Google, Facebook, etc.) vão descobrir o seu significado e nos dizer o que fazer.

Por exemplo, manter um diário pessoal era uma prática humanista comum em gerações anteriores. Para o jovem de hoje, isso não faz mais sentido. Para que escrever alguma coisa que ninguém mais vai ler? Harari dá o exemplo de alguém que vai à Índia e se depara com um elefante. Essa pessoa não vai olhar para o animal e se perguntar: "o que eu estou sentindo?" Provavelmente, ela estará ocupada demais pegando o seu celular, tirando uma foto do elefante, postando-a no Facebook, e depois conferindo a sua conta, a cada dois minutos, para saber quantas curtidas obteve!

No futuro, hábitos liberais - como eleições democráticas - poderão se tornar obsoletos, porque o Google será capaz de representar minhas opiniões políticas melhor do que eu mesmo. Isso porque não me lembro de tudo o que pensei e senti nos anos que se passaram desde a última eleição. O Google estará capacitado a votar, não de acordo com o meu estado de espírito momentâneo, mas de acordo com um leque mais completo de dados. Assim, a chance de votar no candidato certo seria maior.

Do mesmo modo, nas próximas eleições presidenciais americanas, o Facebook poderia saber as opiniões de milhões de eleitores e detectar dentre eles, os que representam os votos críticos que podem fazer a diferença e como eles podem ser mudados. Poderia também identificar onde estão os eleitores indecisos. O disparo de mensagens através de robôs também tem sido um meio eficiente de fazer com que o eleitor se identifique com o candidato. Trump venceu as últimas eleições porque convenceu o eleitor que representava alguém fora do establishment. Bolsonaro, deputado por quase três décadas, por mais absurdo que seja, vendeu (e foi comprada!) a imagem de que era "um político diferente".

Como o Facebook poderia obter essas informações? Simples, nós lhes damos de graça! Nossos dados pessoais são o recurso mais valioso que temos a oferecer e os entregamos generosamente aos gigantes tecnológicos. Tudo isso não lhe parece assustador?

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